Olá adorados. O dia hoje promete. Muito trabalho, muita dedicação e algumas comemorações. Mas hoje eu tirei o dia para falar sobre reflexos.
Na vida, muitas vezes, queremos isso ou aquilo.
Eu sempre que posso, falo: – Podemos tudo que queremos, mas devemos querer tudo que depende única e exclusivamente de nós. Pois é… Me foi cobrado há uns dois meses atrás falar sobre reflexos, vamos a eles.
Para quem me conheceu e sabe, eu sou gastroplastizada. Para quem me conheceu e não sabe, eu sou gastroplastizada.
Por que estou falando sobre isso… Na verdade pesar 140 quilos não faz bem a ninguém. Mas o que faz mal de verdade é carregar 140 quilos de forma emocional e sendo assim é ainda mais difícil carregar sintomas e sintomatologias difíceis de serem tratadas. Por exemplo, eu tinha a pressão 22×15 e achava normal. Na verdade para quem vivia fora do normal, tudo era normal.
E era. Por exemplo, meu coração batia para 140 quilos. Minha obesidade mórbida era invisível para mim. Eu não me olhava no espelho, eu quando era inevitável eu não me via.
Gente isso é normal. Dentro desse contexto normal de anormalidade.
O destempero só é visto quando a vida bate a tua porta e fala, tem alguém ai? E você não sabe o que responder.
Quando eu comecei a procurar respostas para a vida que bateu na minha porta, foi assim:
Minha irmã já tinha lido tudo que ela podia e tudo que ela conseguiu na internet e estava com medo de ir fazer a dela (esqueci de falar que emocionalmente passamos pelas mesmas dores), logo me prontifiquei a ajudá-la. Eu não sabia de nada de cirurgia do estomago e nem queria saber. Mas comecei a acompanhá-la aos médicos para entender o que tanto fascinava esta busca ao reencontro do verdadeiro eu dela. Fiz todo o percurso com ela. Fui ao gastro – que homem grosso, arrogante e frio, prometi para mim que jamais voltaria lá, mas não prometi para ela. O gastro mandou que fossemos ao cardiologista, endocrinologista, nutricionista e psicóloga e fizéssemos todos os exames de sangue e a famosa endoscopia.
Como sempre e como “boa” irmã que sou, marquei todos os médicos para acompanhar a minha Irmã. A minha idéia era a seguinte: Eu iria fazer todo o processo e na hora eu pularia fora. Isso era a minha tática de guerra a favor do sonho da minha Irmã. Meu lado psicóloga sempre pedia para acompanhá-la e fazer esse “favor” a ela.
Olha a bomba: Ao final do processo a segunda vez que voltei ao gastro – sempre acompanhando a minha irmã. O valoroso médico virou para trás onde ficava um computador, olhou para a tela, clicou em algo e falou para mim, você opera em uma semana. Fiquei sem ar, porque eu queria explicar para ele que meu negócio ali era acompanhamento e que eu não era a verdadeira paciente. Eu era um Fake!
Ele não me deu tempo de nada. Só olhou no meu olho e disse: Tudo bem?
Eu olhei para o meu lado, minha irmã toda brava por que a minha cirurgia havia sido liberada e a dela não. A fofura só não sabia que para mim, aquela notícia, mostrava que meu plano tinha dado errado. Ou melhor, tudo errado. Minha tática de ajudar simplesmente caiu por terra, e naquele momento que eu comecei a pensar no que eu tinha feito.
Pensando de forma profissional, eu não me sabotei no processo nenhuma vez. O que me leva a pensar que só o meu ato falho, falhou. Por que eu queria muito tudo isso sem querer.
Tanto que ao receber a explicação do valoroso médico (perceberam que minhas críticas em relação ao homem de branco mudou né) sobre como seria o processo, eu interrompi e disse, você se importa se eu não souber? Eu não quero saber o que vai ser, como vai ser. Eu só quero falar com você na volta. Ele frio que era – esquentou. Olhou para mim e disse: É a primeira vez que me deparo com esta situação.
Eu levantei para me despedir (ai a ficha dele caiu) e fui embora. Quando eu saí da sala dele, não sabia se ria ou chorava, porque eu realmente não sabia o que iria acontecer.
Mais uma vez a vida me deu uma segunda chance (ou terceira, ou quarta… ou centésima). Entender o PORQUÊ de tudo nem sempre é vital, nem sempre é importante ou nem sempre é fundamental no momento em que precisamos de respostas para tudo. E as fotos? Fotos nem passava pela minha cabeça em tirar, tem um longo período em que eu não tenho fotos e assim não tenho registros de histórias para contar.
Dia da cirurgia, 23/10/2006, chegou eu no hospital toda preparada (isso não é muito verdade), mas dentro daquilo que me propus a saber, preparada.
Foi tudo muito estranho, cheguei tinha uma mulher ora chorando no saguão do hospital, ora sorrindo. Logo pensei como ela esta nervosa. Uma hora se passou entre meu atendimento e a minha internação. O Processo de preparação para a cirurgia foi bem rápido, pesei (já tinha emagrecido um pouco estava com 134 quilos), coloquei a roupa cirúrgica e o anestesista segurou na minha mão e me falou o nome dele e disse: Vou te aplicar um remédio e quando você voltar eu vou te perguntar meu nome, espero que você não me esqueça. Foi ótimo para descontrair, e ele começou… 10, 9, 8… no 7 eu já não ouvi. 5 minutos depois, eu comecei a escutar uma movimentação na sala de cirurgia, mas eu não conseguia falar nem abrir os olhos.
Só ouvi o gracioso (?) médico falar para a equipe, vamos começar? O anestesista falou acho que falta alguém… O médico respondeu, não estão todos aqui, inclusive DEUS, afinal a mãe dela me disse que ele estaria aqui nos guiando. Eu pensava, mas não conseguia falar… Gente esse homem é obediente. E a cirurgia aconteceu. Tudo certo (?), até que me provem o contrário. Afinal o que deveria durar no máximo uma hora, durou umas três. O médico saiu em pânico do centro cirúrgico e eu só cheguei na minha suíte (essa é boa) umas sete horas depois. Gente olha a vida sorrindo para mim, DE NOVO.
Sabe porque estou trocando REFLEXOS com vocês? Por que venho há tempos falando de QUERER, SER, TER.
Muitas vezes damos valores a coisas e pessoas que não merecem ter tais. E perdermos chances na vida de simplesmente viver.
Eu não me envergonho de ter usado número 60 em minhas roupas, eu não me envergonho de ter feito a cirurgia de redução, eu não me envergonho de falar sobre isso, mas eu me orgulho de ter tido a chance de mudar, de hoje conseguir usar o meu manequim, e me orgulho mais de ter tempo de poder escrever que nem sempre a vaidade é acometida de sacrifícios estéticos.
Sabe gente, hoje li uma reportagem em que a manchete dizia: Quase morri por vaidade. Um playboy paulista fez a cirurgia e quase morreu, eu fico muito triste com isso, porque é banalizar o procedimento.
Mas ao mesmo tempo eu porto a vocês o seguinte, tudo na vida tem dois lados. Ou seja, o que é estético para um playboy, é uma segunda chance para mim. Vence quem no final pode ter o que contar, tem do que lembrar e muito mais o que esquecer.
Hoje eu psicóloga, tenho vários pacientes/clientes obesos mórbidos e sei entender a todos de forma prática e teórica. Eu sei a dor de um obeso, mas sei a alegria de um obeso mórbido em recuperação. Sei dos sacrifícios que fiz para hoje ter uma carcaça melhor, por que a essência não mudou. As dores estão sendo curadas e as feridas estão em processo de cicatrização. Hoje meu relato é apenas para você que perde alguém que não é seu, perde uma aposta, perde dinheiro, perde algo cujo valor é como cada um de nós, perecível ao tempo.
Hoje digo a você, tudo vale a pena quando você se entrega e confia. De repente algumas pessoas podem dizer, nossa como ela foi irresponsável em nem querer saber o método utilizado no processo cirúrgico, mas se você pensar com clareza vai entender que saber o processo pra que se eu não sou médica, não iria participar da prática da cirurgia. O que me importa é o que eu teria que cuidar pós-cirurgia e que no final tinha que dar certo.
O que eu pretendo dizer e quero dizer é o seguinte: Muitas vezes, você perde tempo demais querendo um amor que não é seu, outras vezes você quer uma roupa que não te cabe, um carro que você não pode comprar e uma vida que você não tem condições de ter porque simplesmente você não se adéqua a ela. Isso não significa que você não possa, mas significa que muitas vezes no final o resultado não será satisfatório, não te fará feliz. Ao passo que, se por algum bom motivo você desejar aquilo que a vida te oferece, te proporciona e te desafia, o mundo – o seu mundo pode ser todo seu e sendo você será a pessoa mais feliz da vida. Assim: Poderá ter um manequim 42, poderá ter o amor de um homem ou mulher sonhado, desejado e pronto a ser conquistado e mais… Tirará lindas fotos para ter histórias registradas para contar. Sabe o nome disso? JOGO DA VIDA.
PS1: To lendo os e-mails (dos 532 de ontem já li uns 200, mas o dia ainda não acabou).
PS2: O Matheus me convidou para o aniversário dele, mas me desconvidou imediatamente por que segundo ele eu não me comportei vou assim mesmo por que estou doida para comer meio brigadeiro e meio beijinho.
PS3: Ao pessoal da palestra de hoje eu retorno as 17h30min para participar, ME ESPEREM.
PS4: A quem me inspira… Tem como me inspirar hoje? To precisando de você.
PS5: Deus obrigada por tudo e mais um pouco.
Juliana – Sobrevivente deste mundo chamado vida. Vida Boa.
juliana@consultoriapsicologica.com.br